quarta-feira, 9 de março de 2011

"Resistência", Agnès Humbert

Página 20:

Paris, 15 de Agosto de 1940

"Voltando para casa ontem, acompanhei do metrô um espetáculo deplorável. Foi próximo à estação La Motte-Picquet, no trecho em que a linha é de superfície. No meio da avenida La Motte-Picquet, notei uma coluna de soldados franceses cercada de soldados alemães. Estes franceses eram prisioneiros conduzidos de um campo a outro. Um senhor, sentado na minha frente, também observava a cena. Fazia anos que eu não chorava, mas senti as lágrimas me descerem pelo rosto. O desconhecido à minha frente também chorava e me disse baixinho: 'Veja isto, minha senhora, prisioneiros franceses na nossa cidade, em Paris... tocados como animais...'

Hoje, porém, o metrô me oferece uma cena reconfortante. Um soldadinho francês bem modesto, mas limpo. Não parecia um militar; sem dúvida pertencia ao serviço de saúde. Perto dele, um soldado alemão alto, gordo, rosado, o corpanzil comprimido num uniforme impecável. Está fumando. Todos fumam no metrô, embora seja proibido – um monte de avisos em alemão deixam isso claro. Passado um momento, ele olha para o francês com um sorrisinho condescendente e um ar paternalista. De repente, num gesto rápido, estende ao rapaz o maço de cigarros. Sem dúvida, o francesinho deve estar louco de vontade de fumar... Vê-se em seus olhos, nos quais sequer um cílio se mexe. O rapaz recusa simples, cara e categoricamente, com um 'não, obrigado' glacial. Jamais saverá quanto prazer me deu este soldadinho desconhecido, derrotado, vendido, mas orgulhoso e digno mesmo assim!"

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